E as pessoas aceitam, entendem, ajudam, deixam passar.
E passa.
A gente se prepara tanto pro parto, normal, natural, anestesia, música, roupa... Que se esquece que ele é só uma passagem.
O parto é uma passagem pelo canal vaginal, e uma passagem para outra vida. Para uma outra rotina, outro papel, outro re-conhecimento (você se re-conhece como mulher, os outros te re-conhecem como mãe, você re-conhece seu bebê).
O parto é uma passagem. Uma passagem dolorida. Ardida. Dói. Dói sair do útero, arde sair da vagina, dói mudar a rotina. Dói não dormir. Dar o peito dói. Dói muito. O bico arde. Tem palpite (e sempre tem palpite!) ardido. Encardido. Dói ouvir noticia ruim de médico. Dói.
Tornar-se mãe de um ser fora de si, mas ligado, plugado, dependente, esfomeado, dói.
É um processo, uma costura alinhavada a cada dia. E quando pensamos que demos um ponto bem feito, a fralda vaza, o bico racha, o bebê acorda e começa tudo de novo.
Nosso corpo muda. Nosso olhar para nosso corpo muda.
Por alguns anos (antes), tudo o que vemos no espelho são nossos defeitos. Pernas, nariz. Cada uma tem sua nóia. Então estamos nóiocêntricas.
Até olhamos para pontos positivos, cabelos? barriga?, o que for, mas no geral perdemos muito mais horas de espelho tentando corrigir ou disfarçar nossos problemas.
Depois, por 9 meses, ou 39 semanas, viramos seres barrigocêntricos.
Tudo vira barriga. Quanto cresceu, se está baixa, alta, redonda, pontuda, mexendo, enjoando, chutando. Se deu estria. Tudo é barriga.
E depois de alguns minutos (poucos e eternos minutos) vaginais, pronto, mais uma passagem: peitocentrismo.
Viramos peito. Peito, mama, teta, bico. Viramos leite.
Viramos feridas, rachaduras, empedramentos. Viramos dores, mais uma vez, antes de prazeres (porque dizem que sim, fica prazeroso!).
Mas viramos peito. E temos que ter muito peito. TEMOS que ter. Peito pra dar. Muito peito pra ser mulher, pra ser mãe.
Se não, ai.
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