Espera

Por querer te falar sobre tudo

Não falo nada

E querendo cada fim de semana

Às segundas me calo

Porque quero seus dedos

Suas coxas

Seus cabelos

E lábios 

Mas por hora tenho suas letras

E algumas lembranças 

Por querer suas palavras

Aceito seu silêncio 

Já que se agora acolho quase nada

É pra colher o tudo, depois

Por isso

espero

Como quem rega uma árvore centenária 

Que ainda está só aterrada

Mas sabe que um dia vai tocar no céu 

Caju

Ainda bem que estava frio

porque eu podia dizer que era só o frio

o que me fazia tremer por dentro com os poucos centímetros que distanciavam sua pele da minha.

Desejo

Quero seu abraço 

Seu sexo

Sua lágrima 

Quero sua paz

Sua ansiedade

E cada momento em que você

realmente não sabe o que fazer

Eu quero me deitar com você 

Sem ter que transar

Quero ver as horas passarem sem culpa

Nem tempo

Quero seu sorriso mais perdido

Seu cabelo nos meus dedos

Quero sua cumplicidade

em meio a todo mundo

E no meio da escuridão 

Quero sua rede

Seu fogo

E seu afago

Quero sua voz grave

Quero sua pele presente 

Quero ter pra onde voltar

De morar

Fico buscando contorno

A tudo isso que transborda

Peço corpo

Bordo palavras

Rabisco futuros que nem sabemos se virão 

Brinco de letras

De ler e reler

Cada tentativa que tivemos de nos calar

Mas quem gritou foi a pele

Já te disse sobre nossa morada?

Quer demorar comigo?

Saudade

O mais difícil de não ter tua voz

É que sinto mais falta da tua pele.

Teus lábios me encostam vorazes,

se as palavras não chegam.

Comem toda a distância que tivemos que inventar.

Tuas mãos me agarram,

espremendo a saudade até a última gota

Até que a lágrima caia

Afogando qualquer possibilidade 

De não pensar em ti.

E se eu me desapaixonar por você?

E se eu deixar de perceber

que tudo se encaixaria

A praça, a fala, o começo do dia

E então deixar passar?

E se eu esquecer

Que a conversa flui

E os olhos se abraçam 

Que os sorrisos se convidam sempre

E sempre para dançar?

E se eu desencanar?

Não pensar mais no erro que tanto          

                                                     queremos

Não criar mais um corpo 

que nunca tivemos

E voltar - só - a respirar?

E se o tempo passar

Sem dó

Nem vaidade

E apagar todo esse tempo

em que a verdade

Era de reapaixonar?

E como ficamos, então 

Se o certo vencer o desejo

E a vontade flutuar até que o beijo 

Se engula de medos e suma no ar?

Sou

Sou uma ótima leitora

Voraz

Leitora de medos e propostas

De anseios e vergonhas

Leitora dessas que olham

Percebem

Imaginam

E escrevem

De telas e papéis sou ruim

Mas voz, pele e silêncio 

Eu devoro