terça-feira, 9 de março de 2010

O Cruel Monstro da Indiferença

(1)


"me falou que o mal é bom e o bem cruel"(2)



Num dia inútil como o de hoje (o dia que pertence ao hoje), ele assusta.
Aterroriza. Congela.
Céu meio nuvem.
O monstro engole minhas besteiras de menina(2) e me deixa nua. Peito e púbis virgens de razões.
O monstro do lado de lá, isolando cada palavra que implora em vão pra fazer sentido. E ele nem percebe. Nem percebe a luta muda que me cala.
Se qualquer maneira vale a pena?(3)
Essa tem me consumido(4). Que fico vazia e plagio farças de outros.
Fico seca. Sem conseguir juntar os pedaços (das palavras dos tempos de mim).
E (com o peito) sei que o pedaço do monstro é o que se sustentará. Pois enquanto que menos, maior.
Se é a tortura mórbida do bem?
É a imobilidade do nada.
O seco. O eco do meu grito ensurdecido pelo mugido do monstro.
Nada. É a garra mais afiada do passar e não fi(n)car.
O barulho do rasgar o futuro que arde mais que o rasgar o passado, tão incerto que este já estava (tão presente que aquele se fazia).
O ruído da inércia.


Corrói.





(2)Tigresa, CaetanoVeloso
(3)Paula e Bebeto, CaetanoVeloso
(4)Esse Cara, CaetanoVeloso

(1)MUITO ROMÂNTICO
Caetano Veloso
Não tenho nada com isso nem vem falar
Eu não consigo entender sua lógica
Minha palavra cantada pode espantar
E a seus ouvidos parecer exótica
Mas acontece que eu não posso me deixar
Levar por um papo que já não deu
Acho que nada restou pra guardar
Do muito ou pouco que ouve entre você e eu
Nenhuma força virá me fazer calar
Faço no tempo soar minha sílaba
Canto somente o que pede pra se cantar
Sou o que soa eu não douro a pílula
Tudo o que eu quero é um acorde perfeito maior
Com todo o mundo podendo brilhar no cântico
Canto somente o que não pode mais se calar
Noutras palavras sou muito romântico

sexta-feira, 5 de março de 2010

cotidiano

Todo sábado, pela manhâ, penso em me matar.
Atirar o corpo ao sol e ver qual seria a gravidade.

((Explosão de estrelas? Virar estrelas?
Ver estrelas?))


Pela dúvida. Pra ver se sou capaz. Pra testar meu limite ínfimo de ser um alguém com medo. Alguém que não morre
de medo.

Um alguém que chora. Quero abraçar minha lágrima (e quando isso acontecer talvez não queira mais levá-la comigo).

Pro além. Ver como é do lado de lá, onde a angústia não passa, e não deixa passar.

Pela dúvida. Penso pra sentir que não existo.
Que não existe falta, só existem sonhos.
Penso para ver meu corpo cair e esfarelar no chão. E reverenciá-lo novamente como eu.
Penso na morte pra que seja um começo, um displicente enrijecer de músculos confirmando a gota que ainda há.
Princípio de fim, que todo começo é. Mas encontro com todo porvir.

Pela dúvida. Penso pra fingir que testo um limite que não existe. Pra forjar uma dúvida. Pela dúvida.

Penso na morte e continuo inerte, pensando se até ela se tornaria fugaz quando o não se realizasse.
Haveria ainda não?
E ser, haveria?


E há?