sábado, 25 de fevereiro de 2012

cinzas

de minhas dores sempre sai poesia.
em letras minúsculas, sempre.
sai.

sai e fica grudada em meu pequeno acervo de dores maiores.
sai e arranca pedaço de mim pra expor lágrimas em formatos de alfabeto.

eu quase choro.
[eu escrevo]

lamento não ter nem mentiras a contar.
nada a expor se não carne viva.
quase crua.
quase seca.

sinto a vida correr em minhas veias mortas.

[do medo eu prefiro nem falar]


solidão deixou de ser adjetivo.
assumiu o posto de princípio.


acabou o carnaval.
posso chorar?


[pra ver se afogo esse museu de angústias?]





Um comentário:

Flaixer disse...

"eu quase choro.
[eu escrevo]"

é tipo

"porque é melhor sonhar tua rudeza
e sorver reconquista a cada noite
pensando: “amanhã, sim, virá
e o tempo de amanhã será riqueza”
a cada noite eu, Ariana, preparando
aroma e corpo
e o verso a cada noite se fazendo
de tua sábia ausência"

Livia Hilst, Hilda Libido.