sábado, 11 de julho de 2009

O eu-parênteses

Desligo o telefone e a fria lágrima chora pra sair. Mas não sai.
Fica entre o centro denso de longas garras e os dedos curtos que tinham sede das palavras.
Que ainda se fazem confusas nesse dentro do mundo. Que ainda são tantas e de tantos outros que ainda penam para serem minhas.
Que tudo que tenho me parece tão pouco.
Toda a minha teia tão vasta de vazio.
(Metralho meu ego porque já não fere aos outros)
Desligo o telefone e aquele abismo se coloca novamente sob meus pés. Sem cordas, sem mãos. Olhar fixo no horizonte e os pés sem apoio.
Todos fazem suas trilhas.
Eu cavo.
O mais fundo abismo que ainda pode me dar pé.
(Porque a coragem para me afogar eu não tenho)
Flutuo.
Sem direções.
Sem a falsa sensação de voar.
Paro no ar e mergulho em mim.
(Onde ainda me dá pé)
E me sinto sem ar e só conto com a ajuda do destino.
Como se fosse concreto e não meu.
Espero uma estrada como se de nuvem fosse,
não de sonho.
Espero o telefone tocar.
Nas férias do eu-vocês, do eu-feliz.
Abrindo mão das pontas que me fixam ao mundo, flutuo fios e penas no ar.
Teia oca
e opaca.
Me faço em linhas que ditam o tempo
(como se o tempo não rasgasse meus fios e não se tecesse junto a mim).
Me tenho sono, preguiça, canso do não-ser e corro pra cama. Choro seco os pesares do destino-nuvem, do abismo-céu.
Re clamo.
Guardo as mágoas do estar só e enfio hífens na tela branca pra uma pseudopintura de mim.
Que o marcar e não ir,
o comprar e não ter,
o dar e não receber me cansaram. Cansaram de mim.
E eu paro de tentar.
Tiro o telefone do gancho e mergulho sem horas pra voltar.

2 comentários:

BAR DO BARDO disse...

Belo devaneio lírico.

Ah, e esse maldito telefone!

DaniK disse...

Li, querida... que delícia ler palavras tão verdadeiras, tão cheias de sentido e de busca...
vc tá por aqui por são paulo?
beijos