sábado, 28 de julho de 2012

Meta

- Então posso?
- Vai.
- Tô perguntando se posso.
- Eu já falei, acho delicado. Mas pode.
Ela ficou no silêncio. Sentiu falta do narrador, que daria sua deixa.
- É que eu só queria ver o que você acha...
- Tá bom, eu vejo. Vou ser sincero! Papel chato de diretor...
- Eu sei. Por isso tem que ser você. Só que não me vem a fala!
- Cê não escreveu em lugar nenhum?
- Não. "Há quem decore a vida na ponta do..." Não, essa é outra.
- ...
Ela tenta lembrar. Remontar. Improvisar. Criar.
- Te falei que era difícil representar a si mesma.
Ela começa a chorar.
- Pra onde você tá se levando?
- Eu preciso de mim!
Ele a abraça. Após o respiro, ela suspira:
- Já me ensaiei tantas vezes...
- Quer passar de novo? só você? sozinha? Eu saio!
Ele encostou a porta e esperou. Ouviu as vozes, as risadas, as deixas.
Silêncio. Ele entrou.
- E então?
Vazio, e a janela aberta.
Aquela cena não podia ter plateia.

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