terça-feira, 26 de maio de 2020

Despida

Primeiro me despedi do seu sexo. 
Da sua pele. Do seu toque. Da minha mão em seus cabelos e da sua mão em mim.
Me despedi da língua. Dos lábios. Das gotas. De ver de perto. Do silêncio.

Depois me despedi de suas palavras. Das canções. Dos poemas. Me despedi de cada café, cada bicicleta, cada jogo. Me despedi do óculos, da batata, do caminho. Me despedi do mar. E de todas as outras coisas que fariam você lembrar de mim.

Assim, me despedi da dúvida. Do imenso prazer de te ver na dúvida. Sem saber. De te ver querer, mesmo sem poder. Me despedi do sonho compartilhado. Da esperança que teimava em nos visitar. Me despedi dos planos, e de todo aquele futuro. Me despedi das lágrimas, dos abraços e dos sorrisos que daríamos juntos.

Agora, por fim, me despeço de sua atenção. Do interesse constante, da procura, do saber. Me despeço da vontade incontida de estar perto. Me despeço do antigo lugar de prioridade. Me despeço do descontrole, do impulso, do costume. Me despeço do cuidar junto. 

Tem sido assim. Por partes. Aos poucos. Dolorido. Esquisito. Longo, e bonito.
Assim que tenho me despedido de você. 

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